"Hoje a Igreja te convida:/ ao pão vivo que dá vida/ vem com ela celebrar!
O que o Cristo fez na ceia/ pede à Igreja que o rodeia repeti-lo até voltar.
Faz-se carne o pão de trigo,/ faz sangue o vinho amigo:/ deve-o crer todo cristão.
O que o Cristo fez na ceia/ pede à Igreja que o rodeia repeti-lo até voltar.
Faz-se carne o pão de trigo,/ faz sangue o vinho amigo:/ deve-o crer todo cristão.
Com a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, a Igreja celebra o mistério de uma Presença, o inesperado modo pelo qual o Senhor cumpriu ao máximo sua promessa tão consoladora, tão amorosa: "Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos!"
Caros em Cristo, para nossa contemplação do mistério da presença real de Cristo na Eucaristia, respondamos a quatro perguntas: (1) Como se dá a presença de Cristo na sua Igreja? (2) Por que ele quis se nos entregar numa ceia? (3) Por que com pão e vinho? (4) Por que disse "é meu corpo, é meu sangue"? Respondendo esses quesitos, procuremos admirar o modo inaudito com o qual Deus se deu a nós...
A primeira questão: como se dá a presença de Cristo na sua Igreja? A resposta é simples: dá-se na potência do Espírito Santo. O próprio Senhor Jesus havia dito ser melhor para nós que ele partisse... Por quê? Porque esvaziando-se de si mesmo na cruz e sendo plenificado com o Espírito Santo por obra do Pai, ele derramaria seu Espírito em nós, sua Igreja. É assim que ele estará para sempre conosco: onde está o Espírito Santo de Jesus, aí está a força de Jesus, a vida de Jesus, a energia de Jesus, a ação salvífica de Jesus. É por isso que, estando à Direita do Pai, o Senhor estará sempre conosco, em todos os momentos e recantos da terra. É o Espírito de Jesus quem age quando a Palavra é proclamada e escutada, é o Espírito de Jesus quem age nos sacramentos, é o Espírito de Jesus quem nos faz sentir a presença do Senhor quando rezamos. Jamais há presença do Senhor sem o Santo Espírito; jamais o Santo Espírito faz outra coisa além de tornar o Senhor e sua salvação presente em nós, na nossa vida, na vida da Igreja e na vida do mundo. Pois bem se, na força do Espírito, há mil modos do Espírito está presente na sua Igreja, há um modo que é especialíssimo, tão singular que nós chamamos de presença real: é a presença no pão e no vinho eucarísticos. Pela invocação do Espírito Santo e a imposição das mãos do sacerdote, na celebração da Santa Missa, de tal modo o Santo Espírito do Senhor impregna o pão e o vinho, que ali já não há mais pão e vinho, mas o Senhor Jesus morto e ressuscitado, em eterna e amorosa imolação, sempre vivo a interceder por nós. Após a consagração, o pão é Jesus, o vinho é Jesus, todo no pão, todo no vinho, em corpo e sangue, alma e divindade, tão real e perfeito como está no céu. Escutemo-lo para crermos; estejamos atentos para não duvidarmos, como os judeus que acharam dura esta palavra. Escutemos: "Isto é o meu corpo; isto é o meu sangue. Fazei isto em memória de mim! Minha carne é verdadeira comida; meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele; tem a vida eterna e eu o ressuscitarei. Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu Sangue não tereis ávida em vós!" Então, sabemos que Cristo está realmente presente na Eucaristia, sabemos que aquele pão é todo Cristo e aquele vinho é todo Cristo, Senhor da vida, presente pela força transformadora do Espírito Santo.
Passemos à segunda pergunta: Por que o Senhor escolheu uma ceia para se dar a nós, de modo que, ainda hoje, o sacrifício eucarístico tem a forma de um banquete? É porque para o povo da Bíblia, comer à mesma mesa, cear a mesma ceia significa viver a mesma vida. O alimento é vida, e comer o mesmo alimento é partilhar a vida. Pois eis, caríssimos, que o nosso Senhor quis partilhar conosco sua vida, sua morte, sua ressurreição, sua vitória, que agora tem junto ao Pai na força do Santo Espírito! Bem que ele nos havia dito: "Não há maior prova de amor que dar a vida pelos amigos!" Pois ele se deu a nós de verdade, partilhou de verdade toda a sua existência. – Obrigado, Jesus, por tamanha prova de amor! Obrigado, porque fazendo-te homem vieste comer à mesa de nossa existência, partilhando a nossa aventura humana! Obrigado porque nos deste partilhar a tua aventura!
Passemos à terceira pergunta: Por que o Senhor utilizou pão e vinho? Porque são os alimentos mais simples, mais comuns da mesa dos judeus. O pão e o vinho eram o dia-a-dia do pobre e do rico. Ainda hoje, nos países da bacia do Mediterrâneo, ao sentarmo-nos para o almoço ou jantar, encontramos logo na mesa uma garrafa d'água, uma garrafa de vinho e pão fatiado. Pois bem: Jesus não quis ser o Jesus dos grandes momentos, o Jesus de algumas poucas ocasiões; ele quis ser o Jesus de todos os dias, o Jesus de todos os momentos, o Jesus dos pobres e dos ricos, o Jesus de todos e de tudo. Por isso mesmo escolheu sinais tão ínfimos, tão humildes, tão vulgares. – Mais uma vez, obrigado, Jesus, por tua humildade, por tua divina disponibilidade em se dar a nós de modo tão simples, tão desprovido de grandeza! Ensina-nos, pelo pão e vinho eucarístico, a virtude da humildade, da simplicidade, da arte de perceber o valor das coisas humildes e pequena, nas quais tu te escondes...
Por último, a quarta questão: Por que Jesus disse "é meu corpo, é meu sangue"? Corpo ou carne, na Bíblia, não é somente a musculatura da pessoa, mas toda ela – sua inteligência, seus sentimentos, seu corpo, suas emoções, seus planos... É dito carne ou corpo para significar que o homem é frágil, murcha como a erva do campo. Pois bem, quando Jesus diz: "Isto é o meu corpo", ele quer dizer: "Isto sou eu com minha vida tão frágil, que tomei de vós no seio de Maria, a Virgem. Eu vos dou minha fraqueza humana: meus cansaços, meus sonhos, minhas andanças... Dou-vos tudo quando vive no meio de vós, feito homem, eu, o Verbo que se fez carne!" E o sangue? Não significa simplesmente o líqüido vermelho que corre nas nossas artérias. Sangue, na Bíblia, significa a vida. O sangue derramado significa a vida tirada, a vida violentada. Pois, vede que coisa tão linda: ao dizer "Isto é o meu sangue", o Senhor está dizendo: "Eu vos dou toda a minha vida que se foi derramando por vós, desde o primeiro momento da minha existência humana. Fui me derramando por vós em cada cansaço, em cada decepção; fui me derramando em cada noite em oração, em cada agonia... até aquela última, da cruz e da sepultura..." Então, meus caros, "isto é o meu corpo, isto é o meu sangue" significa "isto sou eu todo, com o que tenho, com o que sou, com o que vivi e com o que morri, com o que amei e com o que sonhei, que agora entrego a vós e por vós". Que podemos dizer, meus caros? Digamos simplesmente, ainda uma vez mais: Obrigado, Senhor, por esse amor tão grande, que te fez a nós te entregares assim, totalmente! Dá-nos a graça de, recebendo teu corpo e sangue, plenos do Espírito Santo, na força do mesmo Espírito, fazer de nossa vida uma entrega a ti e, por ti, chegarmos ao Pai, onde estás!
Amém.
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